sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Perfume Exótico

Quando eu a dormitar, num íntimo abandono,
Respiro o doce olor do teu colo abrasante,
Vejo desenrolar paisagem deslumbrante
Na auréola de luz d'um triste sol de outono;

Um éden terreal, uma indolente ilha
Com plantas tropicais e frutos saborosos;
Onde há homens gentis, fortes e vigorosos,
E mulher's cujo olhar honesto maravilha.

Conduz-me o teu perfume às paragens mais belas;
Vejo um porto ideal cheio de caravelas
Vindas de percorrer países estrangeiros;

E o perfume sutil do verde tamarindo,
Que circula no ar e que eu vou exaurindo,
Vem juntar-se em minh'alma à voz dos marinheiros.




Charles Baudelaire

domingo, 9 de agosto de 2009

Cana lírica

Me embebo
Me abasteço
Me enveneno.

O engenho é doce
Altiva a colheita
Poderoso o efeito.

Ardido como o sol
Libertino é certo
Abrindo o ponto de fuga.

Daniel Monteiro

segunda-feira, 3 de agosto de 2009



                                 Repartição pública fascista em Nápoles, ano 1936.

Pública


Vou publicar sobre putas
Todas as que amam clientes
Salafrárias carentes
de passarinhos políticos

É público bem como
O chamado do mendigo amarelo
Despovoando a rua abrupta
O chão seu lar, a comida crua.

Impureza chata, ingrata, sem graça                         
Não transmite nenhuma doença limpa                               
E o que se cura com a verba da massa?
Nada.

E mais público que esgoto não há
Taxado humanamente como não
Visando a engorda da república
Que acumula propinas e varizes
Também públicas
Como a via em que andamos.


Daniel Monteiro