sábado, 20 de setembro de 2008

Sujo é limpo

Vivemos dependendo totalmente da curiosidade
Sobrevivendo com o poder de morrer no êxito
E morrendo para ceder espaço aos noviços egoístas,
Pela balança humana favorável.
“Ohhhhh! Que lindo esse bebezinho amável!
Mas aquela mulherzinha arrogante é por demais enojante!”
Amamos porque somos mortais
E odiamos para felicitar a vida
ou facilitá-la
Num buquet moribundo de promessas
Os antônimos se escoram
Os sujeitos se exploram
Arrumando algum jeito de rejeitar a si próprios

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Timbre Oco

A gritaria subsaariana esgoela uma fome impassível
Na minha casa tenho iogurte, vaca assada, feijão preto
A manhã da América é de ovo rei
De entupimento dos sentidos
E de egoísmo

A mendigagem bonita por dentro tem moradia ao ar livre
Tem peito de pedir um troco ou etílico
Envergonha-se de não vacinar seu cão de amarra
De não amar os transeuntes

Já vem lá a carroça urbana, apapelada de angústia
Veio cá o miserável, enveredando pelas vielas
Cantando embargado, andar entortado
Aguardando a doença certa

Como é ávida a coreografia dos necessitados de tudo
Berram, esperneiam, esganiçam e esmolam o pouco
O necessário para o mantimento da vida medíocre
Estalando em suas gargantas o timbre oco

Aclamados homens-gabiru aproveitadores da réstia
Determinados são pelo que ingerem e vestem
Envenenam suas vidas encubados em choças
A lamúria pura de homens concernes

A casta esforçada de excludentes implora
Rangem os dentes por um nada qualquer
Tão vácuo seus estômagos como o futuro é incerto
Permanecem na trilha para timbrar a passagem

Um passado de glória esculpiu o topo no clímax
O luxo, a ostentação e a avareza itinerante
Levado do apogeu ao fio de pedra
Subindo à cabeça o descontrole

Como é ávida a coreografia dos necessitados de tudo
Berram, esperneiam, esganiçam e esmolam o pouco
O necessário para o mantimento da vida medíocre
Expulsando de suas gargantas o timbre oco

Nessas vozes abafadas de todos os medos
Vacilou mais quem não chapou
Não errou quantas vezes quis
E não amou o amor

O dinheiro mal gasto é a grana bem empregada
Esfolada na cana e na carne
No prazer passageiro do retirante
Vendo a bufunfa rapidamente em migalhas

Assim é a comodidade de quem não tem nada
O que já foi dele é dos outros
Sem preocupação com posses e pertences
Nem consigo próprio honestamente

Como é ávida a coreografia dos necessitados de tudo
Berram, esperneiam, esganiçam e esmolam o pouco
O necessário para o mantimento da vida medíocre
Esboçando em suas gargantas o timbre oco

Ter a favela afivelada na cinta
É a segurança choldra do vivente
Conhecer o pútrido e o devasso
A área interna da mente dos ratos

Assim nada é como ter tudo do ruim e do pior
Barraco, resto e trapo esgarçado
Não a casa, comida e roupa lavada
Sim o vício, o jogo e a tara

E ao som do tilintar da lâmina sanguínea
A paria se humilha por uma chance de viver
Matam uns aos outros na combustão do fogo ou no ferro
Morrendo sem ver a culpa do mundo louco,
sem mérito

Como é ávida a coreografia dos necessitados de tudo
Berram, esperneiam, esganiçam e esmolam o pouco
O necessário para o mantimento da vida medíocre
Mumurando de suas gargantas o timbre oco.


Daniel Monteiro