quarta-feira, 29 de julho de 2009

"Não me importa saber como você ganha a vida.
Quero saber o que mais deseja e se ousa sonhar em satisfazer seus anseios do seu coração.

Não me interessa saber sua idade. Quero saber se você correria o risco de parecer tolo por amor, pelo seu sonho, pela aventura de estar vivo.

Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com sua lua. O que eu quero saber é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza, se as traições da vida o enriqueceram ou se você se retraiu e se fechou, com medo de mais dor. Quero saber se você consegue conviver com a dor, a minha ou a sua, sem tentar escondê-la, disfarçá-la ou remediá-la.

Quero saber se você é capaz de conviver com a alegria, a minha ou a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até a ponta dos seus dedos, sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas, que nos lembremos das limitações da condição humana.

Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira. Quero saber se é capaz de desapontar o outro para se manter fiel a si mesmo. Se é capaz de suportar uma acusação de traição e não trair sua própria alma, ou ser infiel e, mesmo assim, ser digno de confiança.

Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza no dia-a-dia, ainda que ela não seja bonita, e fazer dela a fonte da sua vida.

Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu,e ainda assim pôr-se de pé na beira do lagoe gritar para o reflexo prateado da lua cheia: "Sim!"

Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem. Quero saber se, após uma noite de tristeza e desespero, exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos.

Não me interessa quem você conhece ou como chegou até aqui. Quero saber se vai permanecer no centro do fogo comigo sem recuar.

Não me interessa onde, o que ou com quem estudou.Quero saber o que o sustenta, no seu íntimo, quando tudo mais desmorona.

Quero saber se é capaz de ficar só consigo mesmo e senos momentos vazios realmente gosta da sua companhia."
Oriah
Índio Sonhador da Montanha

terça-feira, 21 de julho de 2009

Cavalos e Almas


O cheiro do mato aberto
Remete às casas senhoriais
E a poesia sai atônita,
Agalopada,
Desrespeitosa.

Hoje os eqüinos são receosos do homem
Domesticados sem livre arbítrio
Sem genitais e desejo próprio.

É feio essa ranhura domada
Esse sintoma de domínio
Esse coice na selvageria
Correto na sua mentira.

Como vamos decidir
Pra onde vai as almas
Se não sabemos ser justos
Com seres horóscopos

A alma ricocheteia internamente
Inquietando o cavalo no pasto
Reverberando a vontade dominante
O estirar supremo do músculo


Transparente,
Ressabia o canto do espírito
O instinto de um ser livre
O olhar através do descampado

O antílope brinda o peito ao vento
Mastiga a verdura do sustento
Ama o correr desembaraçado do fim-tarde
Pelos certos pedregulhos
Investindo moral

Tal nobreza cega o domador
Vendo o poderio do servidor
Cala consentindo a força
Deixando-se guiar com animal vigor.


Daniel Monteiro