sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Jazida de Corpos

O planeta é como um resfolegante entreposto de carnes
Suam as artérias articulares da pelagem
Lambuzando o roçar das coxas animais
As vísceras expostas do instinto assediando o próximo
E o próximo molestando seu sexo público de passagem

O desejo espremido do abade
Reprime a sanidade arcana ao limiar do viço
E a forja do celibato tátil
Incute a pureza nua na vassalagem
Criando o mal devasso no claustro


No tal montante das putarias
Alcovita quem quer gozo e corrimento

Coleciona genitálias a baixo custo
Angariando úteros na feira livre do crepúsculo


Antes fossemos como peixes num depósito de óvulos
Mas como somos encaixe de órgãos
Um roçar de músculos viscosos
Permanecemos pela transmissão universal
Alastrando epidemias galáticas
Numa núpcia viral

No entrebate tumultuado do núcleo urbano
Gavetas alvas conservam cadáveres um dia já quentes
Solos públicos acolhem moribundos etílicos
Ruas espremidas banalizam e indiferenciam
Os corpos andantes e mundanos do homem
Ofertando humanos num cardápio telefônico


Este é o mal carnal no limite do abuso
A podridão da proteína no clímax do atrito
Toda a reprodução sexuada pela delicadeza do vínculo
Nenhum corpo a sair ileso pela contaminação do submundo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

CORAJOSO ESCARLATE

Bem pulsantes são as engrenagens do coração
Átrio, aurícula e ventrículo
Amantes de um bom sangue arterial
Jocosa é razão de tal batimento dinâmico
Tateando outro peito alheio encostado ao teu
Distribui as delícias da reposição orgânica
Bombeando o líquido venoso pelo ralo
Insaciável órgão-mor involuntário

Se chora bate, bate se sorri
Se brinca bate, bate se briga

Bombeia na mesura perfeita
Incessante de fé, prova da vida
Com um púrpura chamejante
Abocanha os sentimentos vividos
Para ele corriqueiros
Em bocadinhos
O tom de voz sempre mais alto que o da mente
Irrigado de nobreza
Muito embora entupido de ansiedade
E gostosamente irresponsável por natureza

Bate cansado, enérgico bate
Bate surpreso, traído bate

Movido pelo ímpeto e pela coragem
De amar aqui e acolá
Amor de mãe, de irmão ou de tesão
Rocha de carne inveterada
Infalível nos negócios do amor próprio
Com os corpos quentes dele dependentes
Amores loucos dele correspondentes
Caminhos tortos é ele inconseqüente
Provando num só tempo a rigidez e a fragilidade
A fraqueza e a caridade
Escondendo tristeza com felicidade
E bomba, bomba completando o ciclo interno
Mantendo o tal círculo dos assuntos externos

Com medo bate, bate com coragem
Bate com ódio, com amor bate

E enquanto estiver vivo
Coradinho,
O resto vive no seu ritmo.